quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

      "O que antes parecia ser uma grande data, já não tem mais a mesma significância. O valor da família ficou voltada ao interesse comercial. Pelo menos é o que acontece quando a gente cresce e percebe que quem deixa os presentes na árvore de natal são os nossos pais e outros parentes.
-Odeio natal! Odeio natal! Odeio natal!- O que diabos isso tem de tanto valor pra minha família se eles se odeiam o ano interno e no natal e ano novo parecem se amarem tanto que todos os erros são esquecidos somente nessas datas. Será que ela serve pra isso? Pra você fingir ou treinar sua tolerância? Ou para fazer você lembrar que ter um pingo de compaixão é bom de vez em quando? 
       Hoje completam-se 15 dias que ninguém vem me visitar. A última notícia que tive foi ontem do meu irmão, que conta que o restante da família está na Europa. -Grande merda! Eu já esperava. Não me importo mais.- E hoje, internou uma mulher tão irritante que não parava de falar. Contou-me de quase toda sua vida e menos de quatro horas dividindo o leito comigo. Posso estar exagerando, mas enquanto ela falava com aquela tamanha velocidade, eu escutava letras grudadassemnemsequerterumespaçoparapuxaroaredarinicioaumaoutrafrase. Fui obrigada a andar até o posto de enfermagem da unidade onde eu estava internada e pedir transferência de leito. O enfermeiro me informou que não haviam leitos disponíveis no momento. Retornei para o leito e assim que cheguei "Nossa!Meacordeiepercebiquevocênãoestavaaqui!Acheiquevocêtivesserecebidoaltaejatinhaatéficadotristeporquetinhapensadoquetinhaperdidominhaamigadeconversa"
E ficou me olhando com um sorriso de tubarão, cheio de dentes. E o pior é que eles não eram afiados, mas sim a língua. Retornei para o posto de enfermagem "O senhor não tem nem um remédio para dopá-la? Fazer dormir?". O médico que estava no posto de enfermagem com o enfermeiro achou graça. O infeliz disse que não poderia fazer nada por mim por enquanto.
   Eu não queria retornar pro meu quarto tão cedo para não ter que ouvir as histórias dela, que aliás, já estavam ficando repetitivas. Por isso, fiquei fazendo amizade com enfermeiros e médicos pelos corredores e comecei a aproveitar o sol no pátio que eu nem sabia que existia. Um dia acordei-me às 07:00 horas da manhã com a tagarela cantarolando enquanto fazia tricô. Me acordei irritada. Tentei abafar o som com o travesseiro em meus ouvidos. Ela percebeu que eu estava acordada:
-Quebomquevoceacordoueuestavamesentindosozinhaeestavaloucaparaconversarcomalguem...
-Ainda estou tentando dormir. Você poderia ficar em silêncio?
-Masjánãosãomaishorasparacontinuardeitada! Aproveitaestedialindo!
-Por favor!
Ela me ignorou e começou a assobiar. Levantei-me numa furia e fui caminhando até o posto de enfermagem "Me desculpe senhor! Mas não tenho mais condições de dividir o leito com aquela moça. Ela não para de falar um segundo sequer e eu gosto de silêncio!"
"Vou falar com as secretárias para ver a disponibilidade de leitos para transferência."
"Muitissíssimo obrigada!"
Recebi o café da manhã e a minha colega de quarto sentiu um mal estar. Deitou-se na cama e chamou os enfermeiros pelo bip. Eles vieram correndo. Tiraram ela do quarto e levaram correndo para fazer exames e medicá-la. Durante a tarde ela foi transferida para lá novamente, e estava acamada. Naquele dia eu queria ficar perto dela para ter certeza de que iria ficar tudo bem com ela. Seus familiares vieram lhe visitar e sua irmã segurava sua mão com firmeza enquanto continha as lágrimas. Mesmo estando tão mal, ela tinha um sorriso no rosto, dizendo que a vida era linda e que eles deveriam desfruta-la, ela teria de partir cedo ou tarde e que ela não iria admitir que eles sofressem com a morte dela, e que sentir saudades seria normal. Disse que só iria querer que eles chorassem por ela, se lembrassem de seus momentos felizes e se emocionassem por gratidão. Mas não por tristeza. Todos choraram baixinho e em seguida saíram do quarto. Logo entrou aquele homem de terno "
Olá, amigo! Veio dar o abraço gelado em mim desta vez?"
 "Cansas-te de me ver? Com tantos outros e nas "quase" ocasiões?"
"Estou cansada de esperar. Essa coisa só aumenta e nunca me derruba de verdade. Ou tenho muita sorte ou você é quem tem muita preguiça!"
"E você quer que isto lhe derrube?"
"Querer eu não queria. Mas fazer o que se não tem cura? Deixar a minha família agoniada toda vez que acontece algo comigo é foda. Queria resolver isso logo para que esse sofrimento não os matasse aos poucos"
"Já te despedis-te hoje?"
"Só me leve daqui, amigo!"
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